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A cidade de Ipiaú, incrustada no coração da Bahia, segue financeiramente atrelada ao governo federal. Sem uma produção local substancial, continua enfrentando um dilema desolador, que se agrava ano após ano: a crescente dependência financeira de sua população e da administração municipal em relação ao Governo Federal. Essa situação levanta questões cruciais sobre a sustentabilidade econômica e o futuro da autonomia municipal.
Em 2023, a arrecadação de Ipiaú para a Previdência e a Receita Federal totalizou R$ 75,21 milhões, menos de 1/5 do que foi recebido de volta pela prefeitura e pelos cidadãos do município. Esse montante se revela irrisório diante do volume de recursos federais destinados à cidade em 2024. Somente neste ano, a prefeitura recebeu mais de R$ 150 milhões, enquanto a população obteve R$ 325 milhões em benefícios sociais e previdenciários.
Um mosaico de programas sociais
O Bolsa Família, carro-chefe dos programas sociais, ampara 8,31 mil famílias, injetando cerca de R$ 65,88 milhões na economia local ao longo do ano. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) garante R$ 77,7 milhões para 4,65 mil idosos e pessoas com deficiência. O Auxílio Gás, por sua vez, atenua o custo do gás de cozinha para 2,32 mil famílias, com um aporte anual de R$ 18 milhões.
Os benefícios previdenciários, como aposentadorias e pensões, representam a maior fatia desse montante, somando R$ 152,88 milhões. Já o Seguro-Desemprego ampara trabalhadores em situação de vulnerabilidade com R$ 10,11 milhões.
Como esses programas são cadastrados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) municipais — muitas vezes por indicação de vereadores da base aliada e agentes assistenciais —, parte da população mais pobre e desinformada acaba acreditando que é a prefeitura quem fornece esses recursos. Essa confusão pode explicar a eleição da candidata apoiada pela prefeita Maria, mesmo após diversas e graves denúncias de malversação de recursos públicos e investigações conduzidas pelo Gaeco/MP.
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“Hoje, em Ipiaú, está acontecendo um fato curioso, nunca antes registrado na história econômica da cidade: a demanda por mão de obra é muito maior que a quantidade de pessoas realmente dispostas a trabalhar. Nem no auge da produção da cacauicultura presenciamos esse fenômeno”, definiu um radialista local, que pediu anonimato para evitar perseguições e perda de renda em retaliação ao sistema vigente.
Ele afirmou acreditar na atuação de uma “mão invisível” que há mais de oito anos influencia a cidade. Segundo ele, essa força tem a “cabeça” em Salvador, o “estômago” em Ipiaú e as “pernas” em Brasília.
Para além dos números
Essa dependência, contudo, não se limita à esfera financeira. Ela se entrelaça com aspectos sociais e políticos, delineando um quadro de fragilidade econômica que, em vez de impulsionar o desenvolvimento, perpetua um ciclo vicioso de dependência.
A expressiva proporção de famílias chefiadas por mulheres (81,24% no Bolsa Família e 91,36% no Auxílio Gás) revela um cenário de vulnerabilidade social que clama por soluções estruturais e políticas públicas eficazes.
A Prefeitura de Ipiaú, por sua vez, encontra-se presa à lógica dos repasses federais, o que limita sua capacidade de investimento e planejamento a longo prazo. A ausência de uma base econômica sólida impede a geração de empregos e o fortalecimento de setores produtivos locais, condenando a população a uma situação de dependência crônica.
Para agravar ainda mais o quadro de degradação econômica e social das famílias ipiauenses, os programas assistenciais, que pagam valores mais altos para mães solteiras chefes de família, acabam incentivando o aumento de divórcios estratégicos na cidade. Em 2022, Ipiaú bateu o recorde de 164 divórcios judiciais e extrajudiciais, alcançando a 28ª posição entre os 417 municípios baianos e a 470ª colocação entre os 5.569 municípios do Brasil.
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Um futuro incerto
Diante desse cenário, torna-se imprescindível que a administração municipal, em colaboração com o governo estadual, desenvolva estratégias para diversificar a economia local e reduzir a dependência de recursos federais. Investimentos em educação, qualificação profissional e incentivos para pequenas e médias empresas são medidas urgentes para transformar essa realidade.
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A situação de Ipiaú serve como um alerta para a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a autonomia financeira e o desenvolvimento sustentável, garantindo um futuro mais próspero e independente para seus cidadãos. * Redação Ipiaú TV