Ipiaú, uma senhora de idade, que merece respeito… prestes a completar 91 anos de emancipação político-administrativa, se preparava para a maior festa do ano de 2024. Mas, como diria Carlos Drummond de Andrade, “a festa acabou, o circo foi desmontado e os cafetões do circo estão de partida”. Só restaram as solitárias luzinhas de Natal aproveitadasdo ano passado, a um custo de quase meio e último milhão, na praça Rui Barbosa. E agora, José?
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A prefeita, que gastou uma dezena de milhão na festa de São Pedro, no Dia dos Evangélicos e no Dia do Reggae, parece ter esquecido que o dinheiro público, além de ser deles, não era infinito. A cidade, que esperava uma celebração grandiosa, a altura da majestosa data, agora se vê sem festa, sem circo e sem pão. E agora, Maria?
O povo, que antes dançava ao som do reggae e cantava hinos evangélicos, agora se pergunta onde foram parar os recursos que deveriam garantir a festa do real Desenvolvimento, e consequente aniversário da cidade. A resposta, talvez, esteja nas notas fiscais e nos contratos assinados com empresas de forasteiras de eventos, da coleta de lixo, dos materiais de construção sem paredes.
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(Itagibá ficou 200% mais rica que Ipiaú)
A ironia é que, enquanto a prefeita gastava milhões em festas, a população de Ipiaú clamava por melhorias na saúde, na educação, na infraestrutura na drenagem… Mas, como diria Drummond, “a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, Você?”
E agora, José? A cidade espera por respostas, por transparência e por responsabilidade. A festa pode ter acabado, mas a luta por um governo mais justo e eficiente está apenas começando. E agora, o Povo? Com o saldo de 8,7 mil pendurados no Bolsa Família, 11 mil no INSS/BPC, apenas 17% da população tem renda própria, com metade das famílias ipiauenses sobrevivendo com renda abaixo de ½ salário mínimo. A zona rural está destroçada; acabou. Não temos mais produção local de quase nada.
O poema abaixo, de José de Carlos Drummond de Andrade foi publicado originalmente em 1942, na coletânea Poesias.Ilustra o sentimento de desilusão e abandono dos ipiauensesdepois do “governo-marketing-fake” da Maria.
José:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?