Na pacata Ipiaú, Seu Zé cuidava de seu cacauzal, legado do pai, como quem guarda um tesouro. Enquanto o preço do cacau subia feito foguete – de R$19 para incríveis R$810 a arroba – sua lavoura insistia em crescer no passo lento de uma carroça puxada por bois já sem ânimo.

“Minha colheita anda como preguiça em dia quente”, dizia Seu Zé aos vizinhos. “O preço sobe de elevador, mas minha produção escala a escada, degrau por degrau… e sempre tropeça!”
Na cidade, os economistas celebravam os números estratosféricos:
“O cacau valorizou 4.152%!”
“Deixou até o dólar e o salário mínimo comendo poeira!”
Já no campo, a realidade era outra. Enquanto os gráficos nos computadores desenhavam montanhas, os cacauzais do agricultor lembravam suaves colinas.

“Ter cacau hoje é como segurar um bilhete premiado que nunca paga”, lamentava ele. Valendo ouro nos mercados, os frutos em sua propriedade rendiam pouco mais que sucata enferrujada. Pés envelhecidos, pragas persistentes e ferramentas ultrapassadas formavam o trio que segurava sua ascensão.
Na feira, os amigos brincavam:
“Ô Zé, com esse preço, dá pra nadar em rios de cacau, hein?”
“Pois é”, respondia ele, “mas minha terra é como peneira furada: tudo escorre antes de encher os bolsos!”

E assim fica a lição: quando o foguete dos preços decola, mas o combustível da produção segue encharcado, o potencial vira frustração. Enquanto o mercado vibra com seus gráficos, os muitos Seus Zés da vida continuam firmes no chão – um chão fértil, mas ainda incapaz de alçar voo.
Por fim, perguntou Seu Zé:
“De que adianta tanta QUALIDADE econômica nas condições desse negócio (bondade caída do céu), se a preguiça, a malícia e o assistencialismo político-eleitoral nos têm dado uma preguiiiiça de produzir na QUANTIDADE necessária para a sustentabilidade?”
Finalizou Tião:
“Desse jeito, Zé, tu vai acabá é vendêno as terra pros chinês que tão vinno aí. Vai trabaiá e pruduzí, homi, que as coisa miora!” * Redação Ipiaú TV