
Divulgada com grande alarde por gestores municipais durante a Semana Santa, a distribuição de peixe nas cidades da microrregião de Ipiaú pode não ser tão generosa quanto os discursos oficiais sugerem. Um levantamento feito com base nos dados do IPEA (2021) e nas quantidades divulgadas oficialmente pelas prefeituras revela discrepâncias entre o volume total entregue e a proporção real por família e por habitante.
Itagibá aparece como o município que mais distribuiu peixe proporcionalmente: 26 toneladas, o equivalente a 4,8 kg por família e 1,7 kg por habitante. Apesar de liderar o ranking, o número ainda está longe de representar fartura, principalmente se considerarmos que muitos gestores prometem “garantir o alimento na mesa das famílias carentes”.
Ibirataia, segunda colocada no ranking, distribuiu 18 toneladas, o que resulta em 2,6 kg por família — quase a metade do índice de Itagibá. Jitaúna e Barra do Rocha empataram com 2,3 kg por família, embora esta última atenda um número muito menor de lares, o que levanta dúvidas sobre o critério de divisão. Aiquara, por sua vez, teve o menor volume: 2,5 toneladas, o que representa apenas 1,7 kg por família e 0,6 kg por habitante — uma quantidade insuficiente para uma única refeição em muitos casos.
Os dados revelam que, em algumas cidades, o peixe distribuído poderia sequer atender dignamente todas as famílias cadastradas, sugerindo que parte das entregas pode ter sido direcionada de forma seletiva ou até simbólica. A falta de transparência na divulgação de listas, critérios de escolha e fiscalização no processo de entrega também dificulta o controle social e abre margem para suspeitas de favorecimento político.
A ação, que deveria cumprir um papel social relevante, parece cada vez mais uma vitrine eleitoreira, utilizada para gerar manchetes e fotos nas redes sociais, sem garantir efetivamente o direito à alimentação das famílias em vulnerabilidade.
Fica o alerta para que, nas próximas edições, a população esteja mais atenta aos números e cobre das administrações públicas mais transparência, planejamento e justiça na execução dessas ações que, embora simbólicas, têm grande impacto para quem precisa. * Redação Ipiaú TV