
Para que todos consigam bem entender a ciranda financeira por trás dos números da Economia Política, é preciso fazer antes,algumas avaliações comparativas substanciais.
Imagine que há 22 anos, você tenha aplicado no mercado financeiroR$100. Vamos analisar o que isso significaria em termos reais de poder de compra da moeda, em diferentes modalidades de apostas no futuro financeiro do Brasil. Uma vez calculados na ponta do lápis, e indicados os índices, no gráfico acima e na tabela abaixo, hoje, os números revelam histórias distorcidas de ganhos, em meio a perdas em um retrato crítico das políticaseconômicas praticadas no país, seja via “governos” de Direita ou de Esquerda.

Quem aplicou em títulos da dívida pública baseado na Selic, alcançou R$ 1.475, enquanto a Bolsa de Valores que promete multiplicações expressivas atingiu R$ 781, a inflação corroeu o poder de compra de quem optou por guardar dinheiro “debaixo do colchão”, reduzindo o valor inicial a apenas R$ 21. Ou seja, para quem esteve montado no cangote da Selic (dinheiro dos bancos) o valor significou 69 vezes mais ganho real que o dinheiro dos pobres, o Real (R$).

Comparativamente a Dívida no Cartão de Crédito: A Bomba Relógio dos Juros Compostos
Se, em 2001, um trabalhador ficasse devendo R$100 no cartão de crédito, com juros praticados de 452% ao ano, essa dívida teria se transformado em R$1,879 trilhão (R$1.879.186.993.319,43). O cálculo, feito com juros compostos, expõe a lógica perversa do crédito rotativo no Brasil — um mecanismo que transforma pequenas dívidas em montanhas de obrigações impagáveis. Enquanto investimentos crescem lentamente, a dívida explode em progressão geométrica, aprisionando milhões em ciclos de inadimplência.
As perguntas que ficamsão: Dá para acreditar que o Brasil seja de fato o mesmo, para todos os brasileiros? A futura nesse modelo? O termo DEMOcracia merece respeito de fato?
O contraste entre os números absurdos, são um símbolo da financeirização da vida: o mesmo país que pune quem não investe com a inflação permite que instituições privadas cobrem juros extorsivos, muitas vezes superiores a 450% ao ano. Para comparar, enquanto R$100 na Bolsa renderam cerca de R$1.600, a dívida no cartão multiplicou-se por 18,7 bilhões de vezes, evidenciando uma assimetria brutal entre o custo do crédito para o cidadão e o retorno dos investimentos das elites financeiras, que inclusive, o dinheiro usado por eles, é na verdade, patrimônio do próprio povo, que depositam nos bancos.
Crítica: Entre a sorte, a exclusão e a espiral do endividamento
Os números não são neutros e estão por trás da esperteza de uns, sobre a exploração de muitos, com o aval dos governos. A disparidade entre os retornos expõe um mercado financeiro excludente: a Bolsa privilegia quem pode arriscar; a Selic, quem “já tem capital” (na maioria das vezes – alheio). O imóvel, outrora democrático, tornou-se artigo de luxo em cidades saturadas. Enquanto isso, a inflação penaliza os mais pobres, perpetuando ciclos de desigualdade.
Mas a dívida dos juros sobre juros, adiciona uma camada sombria a essa equação. Enquanto o sistema celebra os R$1.600 da Bolsa, ignora que, para grande parte da população, o acesso ao crédito não é uma escolha, mas uma necessidade — muitas vezes para cobrir despesas básicas em um contexto de salários estagnados. Os juros abusivos, como os 452% ao ano, não são acidentais: refletem a falta de regulação estatal eficaz e a priorização do lucro financeiro sobre a dignidade humana. As regras do jogo foram devidamente pré-calculadas e contratadas politicamente – seja por burrice ou canalhice mesmo.
O Brasil é um dos países com as maiores taxas de juros do mundo para pessoas físicas, enquanto instituições financeiras lucram R$170 bilhões em 2023, segundo o Banco Central. A matemática é cruel: quem tem R$100 para investir pode multiplicá-lo; quem deve R$100 pode ser enterrado vivo em dívidas por gerações.
O abismo entre dois Brasis
O debate, portanto, vai além da matemática financeira. Questiona por que, após décadas, o Brasil ainda não democratizou o acesso aos investimentos via crédito a preço justo? Do que adiantou o“controle a inflação”se ainda não foi resolvida a questão de forma eficaz o custo exorbitante dou juros abusivos? Enquanto o sistema mantiver essas assimetrias, R$100 continuarão sendo um símbolo não apenas de potencial, mas de privilégio, exclusão e violência econômica.
Aos R$1,88 trilhão da dívida fictícia, soma-se a dívida real de um país que normalizou a financeirização da pobreza. O mesmo Estado que falha em educar financeiramente sua população permite que o crédito seja uma ferramenta de opressão. Enquanto isso, o trabalhador — entre a inflação que corrói seu salário e os juros que devoram seu futuro — paga o preço mais alto: o de ser tratado como cifra, nunca como cidadão.
Crédito Consignado no Governo Lula: Inclusão Financeira ou Armadilha da Dívida?
A proposta de expansão do Crédito Consignado para trabalhadores, defendida pelo governo Lula como uma ferramenta de “inclusão financeira”, reacende um debate antigo: até que ponto o acesso facilitado a empréstimos representa um avanço social — e quando se transforma em risco de endividamento crônico para a população mais vulnerável?

Os Números: Entre a Oportunidade e o Risco
Em 2023, o Crédito Consignado movimentou R$ 310 bilhões no Brasil, com inadimplência de apenas 2,5% — ante 6,5% no crédito pessoal comum. Os dados, porém, escondem nuances:
- 48% dos contratos são usados para pagar dívidas anteriores, segundo o Banco Central;
- 70% dos tomadores têm renda mensal inferior a 3 salários mínimos;
- Mulheres e idosos são os principais perfis, muitos pressionados por necessidades básicas. (cadê os políticos que se dizem defensores das mulheres?)
A contradição é clara: o mesmo mecanismo que “salva” famílias de juros abusivos pode prendê-las em um ciclo de refinanciamentos. Em 2022, 28% dos contratos de consignado foram renovados antes do prazo original, indica a ANBIMA.
A Crítica: Quando o Remédio Vira Veneno
Especialistas alertam que a facilidade do desconto em folha cria uma falsa sensação de segurança. “O trabalhador não vê o dinheiro sair da conta, então subestima o impacto no orçamento”, explica Maria Fernandes, economista da FGV. O risco é que o consignado, mesmo com juros mais baixos, se torne uma muleta para a falta de políticas públicas estruturantes, como reajustes reais de salários e ampliação do acesso à saúde e educação.
Há ainda o dilema ético: bancos lucram R$ 40 bilhões ao ano com operações de consignado, segundo a Febraban, em um mercado onde a maioria dos clientes é de baixa renda. Para críticos, o modelo perpetua a financeirização da pobreza, transformando direitos sociais (como aposentadoria) em garantias para empréstimos.
O Governo Lula: Entre a Pressão por Aprovação Social e a Ganância do Mercado Bancário
O Plano Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, anunciado em 2023, tenta equilibrar a equação. A ideia é direcionar parte do consignado para microempreendedores, com taxas subsidiadas e orientação técnica. No entanto, a implementação esbarra em desafios:
- Burocracia: exigências complexas afastam os mais pobres;
- Concorrência com bancos privados, que dominam 85% do mercado;
- Falta de fiscalização sobre cláusulas abusivas em contratos.
Enquanto isso, o Congresso retarda veladamente o debate por um marco legal que limite taxas de juros e proíba a oferta agressiva de empréstimos — projeto travado por lobby do setor financeiro.
Conclusão: Crédito Não é Desenvolvimento Necessariamente
O Crédito Consignado, sozinho, não resolve a desigualdade. Do contrário: Pode até agravar ainda mais. Para milhões, ele é uma tábua de salvação em um mar de necessidades; para outros, o primeiro degrau de uma escada de dívidas. O governo Lula acerta ao reconhecer o crédito como direito, mas erra ao não o vincular a uma agenda mais ousada emsustentabilidade e redistribuição de renda e regulação do sistema financeiro.
Enquanto o salário mínimo não recuperar o poder de compra perdido (20% desde 2016, segundo o DIEESE) e enquanto bancos lucrarem mais com juros do que com investimentos produtivos, o consignado seguirá sendo um paliativo-armadilha — não uma solução necessariamente.
A pergunta que fica é: crédito para quê, se o trabalhador brasileiro continua sem renda-fôlego à vista, para realizar suas demandas mais básicas?
A questão é no fundo é socioeconômica e não financeira.