
Os dados do relatório do governo federal sobre Ipiaú (BA) em 2024 revelam um município marcado por contrastes gritantes: avanço do nível de dependência de programas assistenciais devido à ausência de um real desenvolvimento sustentável em áreas essenciais, expondo desigualdades estruturais e concentrando vulnerabilidades. O cenário aponta para a necessidade urgente de políticas de produção local e independência financeira.
Proteção Social: Avanços ou Fragilidade e Vulnerabilidade Feminina?
Programas como o Bolsa Família e o Auxílio Gás atendem milhares de famílias, mas a predominância de mulheres como chefes de domícilio (supostamente sem maridos presentes), atingindo recordes de 81,24% e 91,36%, respectivamente, evidencia a feminização da pobreza. Ou seria o caso de fraude cadastral?
A média de R$ 660,37 por família no Bolsa Família, abaixo do salário mínimo, reforça a dependência do programa e a falta de mecanismos para a superação da miséria. Além disso, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que atende 4,65 mil idosos e pessoas com deficiência, mostra a forte dependência de políticas assistenciais em um município onde 27,45 mil pessoas (65%) estão cadastradas como de baixa renda.
Tratar a situação real da mulher com dados e propriedade, e não como discurso populista sobre a desgraça alheia, seria mais verdadeiro. Dizer que se é defensor(a) das mulheres é uma coisa; atuar de forma substancial e inteligente a favor da real emancipação delas é outra. Devemos sempre abrir os olhos aos slogans de políticos populistas.
Saúde: Prevenção Negligenciada
A ausência de registros de exames de mamografia e colo do útero em 2024 nas unidades do SUS é alarmante. Em um país onde o câncer de mama é a principal causa de morte por câncer entre mulheres, essa omissão reflete falhas graves na prevenção. Apesar da existência de 14 UBS e 15 equipes de Saúde da Família, a carência de médicos (apenas 8 profissionais) e a dependência de regulação externa do SAMU limitam o acesso a serviços básicos.
Educação: Oportunidades Restritas
A adesão a programas como Escola em Tempo Integral e o repasse de R$ 1,14 milhão para 168 matrículas são avanços, mas a falta de instituições federais de ensino técnico e superior perpetua a exclusão educacional. Dos 65 bolsistas do Prouni, 86% são negros e 66% mulheres. Embora reflita inclusão racial e de gênero, isso não compensa a ausência de universidades locais, forçando jovens a migrar para outros centros.
Agricultura: Agronegócio Versus Agricultura Familiar
O Plano Safra destinou R$ 13,92 milhões ao agronegócio, contra apenas R$ 1,8 milhão para a agricultura familiar, apesar desta representar 131 contratos. A disparidade reforça a concentração de recursos em poucos produtores, muitas vezes escolhidos sem a devida transparência, marginalizando pequenos agricultores sem apadrinhamento político, que sustentam, com dificuldade, a segurança alimentar local. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com R$ 105,31 mil repassados a apenas 30 agricultores, é insuficiente diante do potencial da região.
Emprego e Gênero: Desigualdade em Números
Dos 484 novos empregos formais gerados desde 2023, 64% foram para homens, refletindo um mercado de trabalho ainda desigual. Apesar de 49,17% dos beneficiários do programa de renegociação de dívidas serem mulheres, a participação feminina no emprego formal segue desequilibrada, exigindo políticas afirmativas mais efetivas. Apoiar incondicionalmente o Executivo nos bastidores e bancar-se defensor(a) das mulheres publicamente são atitudes contraditórias.
Cultura e Esporte: Recursos Subutilizados
Os repasses da Lei Paulo Gustavo (R$ 428,89 mil) e Lei Aldir Blanc (R$ 329,01 mil), totalizando quase três quartos de milhão, já tiveram parte dos recursos utilizados, mas a falta de transparência sobre os projetos e os beneficiários levanta dúvidas sobre seu impacto real na comunidade. No esporte, o apoio de R$ 15,54 mil a apenas dois atletas simboliza a baixa prioridade dada ao setor como ferramenta de inclusão. Quem são esses beneficiados? O que, de fato, têm entregue para a cultura e o esporte em benefício da população?
Meio Ambiente e Infraestrutura: Omissões Preocupantes
A inexistência de ações do Bolsa Verde e de fiscalização do IBAMA sugere negligência ambiental. Enquanto isso, o PAC destinou recursos para UBS e drenagem, mas a falta de novas ligações de luz, água e esgoto para toda a população demonstra carências na infraestrutura e indica estagnação no desenvolvimento local.
Entre Avanços Dirigidos e Estagnação Geral
Ipiaú exemplifica o paradoxo das políticas públicas no Brasil: os programas sociais aliviam a pobreza, mas causam dependência sistêmica. Os investimentos econômicos, inclusive em saúde e educação, são insuficientes e insustentáveis. O agronegócio recebe atenção, enquanto a agricultura familiar enfrenta dirigismo. Para romper esse ciclo, é urgente fortalecer a prevenção em saúde, expandir o acesso à educação técnica e superior e equilibrar investimentos entre setores produtivos. Enquanto isso não ocorrer, os relatórios seguirão refletindo um potencial subaproveitado e direitos negligenciados.

Notas:
- *Valores mensais ou parciais foram anualizados proporcionalmente.
- Farmácia Popular: Valor total não monetário (beneficiários), mas inclui custos federais indiretos.
- Programas como Bolsa Atleta, Lei Aldir Blanc e Lei Paulo Gustavo não foram incluídos por falta de clareza sobre o destino (município ou cidadãos).
- Dados de “Saúde da Mulher” e “SAMU” foram excluídos por não apresentarem valores financeiros diretos.
Principais Observações:
- Cidadãos receberam em 2024, R$ 308,19 milhões (aproximadamente) em programas diretos.
- Município recebeu R$ 303,25 milhões (aproximadamente) em repasses federais, projeção anualizada.
Disparidades: Enquanto o agronegócio (que é quem deveria estar gerando riqueza localmente) recebe alocação teórica de R$ 167,04 milhões anualizados, a agricultura familiar fica com apenas R$ 21,6 milhões. Se considerado o somatório, inclusive com a projeções de anualidade, abaixo descritas: Em 2024, a prefeitura de Ipiaú-BA recebeu diversas transferências federais que totalizam um valor significativo, destinado a diferentes programas e iniciativas. Aqui está um resumo dos recursos transferidos à prefeitura:
- Transferências Constitucionais ao Município: R$ 117.010.000,00
- Fundo Nacional de Assistência Social: R$ 492.600,00
- Programa Saúde na Escola (PNAE): R$ 902.000,00
- PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola): R$ 254.790,00
- PNATE (Transporte Escolar): R$ 64.440,00
- PNLD (Livros Didáticos): R$ 413.690,00
- Escola em Tempo Integral: R$ 1.140.000,00
- Repasses a Hospitais Filantrópicos: R$ 356.970,00
- Agentes Comunitários de Saúde: R$ 293.700,00
- Plano Safra (PRONAF): R$ 21.600.000,00
- Plano Safra (Agronegócio): R$ 167.040.000,00
- Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): R$ 210.620,00
- Minha Casa Minha Vida: R$ 4.460.000,00
Total Geral 2024: R$ 314.228.810,00 (projeção anualizada)
Esses valores representam um investimento expressivo em diversas áreas, desde a educação até a agricultura e a saúde, refletindo a expressão vultosa de tais recursos para o desenvolvimento local e a melhoria das condições de vida da população. Em tese, pelo menos.
A questão é: se era para desenvolver, por que só tem causado mais e mais dependência? Será que esses valores tem chagado no bolso dos mais necessitados e de forma equânime? Se não, o que você cidadão miúdo desprovido de padrinho político, deveria fazer?