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Após mais de 30 anos de história, a lanchonete que funcionava na área do estacionamento do Hospital Geral de Ipiaú (HGI) foi completamente demolida na manhã desta quarta-feira (19). O espaço, que há décadas servia funcionários, pacientes e visitantes do hospital, tornou-se o centro de uma disputa judicial que se arrastou por mais de 20 anos.
O estabelecimento foi administrado por Marinalva Menezes Reis, a querida Dona Dalva, até seu falecimento em 2022. Desde então, sua família manteve o funcionamento da lanchonete, sustentando-se do legado deixado por ela. No entanto, uma decisão do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) determinou que o Estado retomasse a posse do local, dando fim a uma história que marcou gerações.
Uma luta desigual
Desde 2020, a Justiça já havia dado ganho de causa ao Estado, determinando a desapropriação do espaço mediante indenização de R$ 16 mil. A família recorreu da decisão e, em 2023, foi procurada por representantes da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), que ofereceram uma compensação financeira para que desocupassem o local. A proposta inicial de R$ 16 mil foi rejeitada, sendo posteriormente aumentada para R$ 19 mil, junto com a promessa de um quiosque na Praça do Cinquentenário.
No entanto, com a recente decisão judicial favorável ao Estado, a Sesab voltou atrás e informou que não cumpriria mais o acordo, alegando que os herdeiros não aceitaram a oferta dentro do prazo estabelecido. A promessa do quiosque também não teve retorno.
Demolição e dor
No dia 28 de janeiro deste ano, um oficial de Justiça foi até a lanchonete para entregar uma intimação em nome de Dona Dalva, sem saber que ela já havia falecido. Ele informou que retornaria com uma nova intimação para os herdeiros.
A situação tomou um rumo ainda mais dramático na última quarta-feira (12), quando funcionários do HGI, acompanhados de contratados da Sesab, arrombaram a lanchonete e começaram a retirar os pertences, segundo relatos da família. A ação aconteceu sem consentimento dos herdeiros, que alegam ter sido pegos de surpresa.
O golpe final veio nesta manhã. Em um vídeo enviado à reportagem do Ipiaú TV, Marlon, um dos filhos de Dona Dalva, registrou as máquinas terminando de demolir o que restava do estabelecimento. “Uma cena comovente… Governador da Bahia 1×0 família de Dona Dalva”, desabafou.
Marlon afirmou que a família rejeitou a proposta inicial de R$ 16 mil, e que a última oferta de R$ 19 mil, junto com o quiosque prometido, nunca se concretizou. “Foi tudo balela. Apenas para nos manter calados e evitar que procurássemos a imprensa, talvez para não prejudicar a imagem da atual prefeita”, disse ele.
Fim de uma era
O impacto da demolição vai além da estrutura física. A lanchonete de Dona Dalva era mais do que um ponto comercial; era um espaço de acolhimento, um refúgio para quem passava pelo hospital, um símbolo da persistência de uma mulher que construiu seu sustento com esforço e dedicação.
Hoje, restam apenas entulhos onde antes havia uma história de luta e serviço à comunidade. Para a família de Dona Dalva, fica a dor da perda e a sensação de injustiça. Para a cidade de Ipiaú, fica a lembrança de um espaço que, por mais de três décadas, fez parte do dia a dia de tantas pessoas. * Redação Ipiaú TV