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Uma história de luta e esperança chega a um desfecho amargo após mais de duas décadas de batalha judicial. A lanchonete, que completaria 31 anos em setembro deste ano, foi despejada após decisão do desembargador Manuel Carneiro Bahia de Araújo no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), favorecendo o Estado sem direito a qualquer indenização para os proprietários. O processo durou 21 anos, período em que o Hospital Geral de Ipiaú (HGI) tentava remover o estabelecimento da dona Dalva.
Segundo informações do HGI e de Dona Zorailde, representante da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), a família recebeu a comunicação há 20 dias sobre a decisão judicial definitiva. O que muitos desconhecem é que, antes das eleições, uma proposta de acordo foi apresentada pela representante do Estado e pela ex-prefeita Maria das Graças: um quiosque na Praça do Cinquentenário por tempo indeterminado e uma quantia de R$ 19 mil para auxiliar na transição.
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A oferta, negociada com o ex-diretor do HGI, Daniel Dias, foi aceita pela família como um último resquício de esperança. A quantia, que ajudaria a cobrir honorários advocatícios e prover algum suporte financeiro, seria dividida entre os filhos de dona Dalva. No entanto, após a decisão do TJ-BA, o acordo não foi cumprido, deixando a família desamparada.
Em janeiro deste ano, o oficial de justiça entregou uma intimação no nome de dona Marinalva, já falecida, e informou que retornaria com outra intimação para os herdeiros. Após receberem o documento, teriam 15 dias para retirar os pertences do local.
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Tudo começou em meados de 1994. Dona Dalva, saudosa Marinalva Menezes Reis, era conhecida carinhosamente como Mãe Dalva pelos mototaxistas e também como Dalvinha. Ela adquiriu um trailer de zinco do saudoso Luís, pai de Pacato, no mesmo local onde a lanchonete funcionava. Anos depois, consultou o então diretor do hospital, doutor José Luís, parente do saudoso Zé Motta, que autorizou a construção do quiosque de alvenaria e laje. A obra foi realizada pelo pedreiro Tõe Pitanga, e os serviços de água e luz foram registrados no nome de dona Marinalva.
Dali por diante, a lanchonete se tornou parte da vida de dona Dalva. Mesmo após se aposentar, ela continuou a trabalhar no local, pois amava o que fazia. Com seu esforço, ajudou a criar filhos, netos e bisnetos, sempre defendendo que “trabalhar é honra”. Sua generosidade também marcou a história do quiosque, onde alimentou muitas pessoas que chegavam sem dinheiro para pagar por uma refeição.
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A justificativa para a remoção é que a lanchonete não pode funcionar em área hospitalar. Entretanto, a forma como o processo foi conduzido e a não concretização do acordo geram revolta e questionamentos. Como pode um compromisso assumido simplesmente ser ignorado? Quem se responsabilizará pelas consequências dessa decisão para a família que, por décadas, manteve seu sustento através deste negócio?
Em um vídeo enviado à reportagem, pode-se notar a lanchonete sendo demolida, uma cena de tristeza .
Diante dos fatos, a reportagem buscará esclarecimentos junto à SESAB, ao Tribunal de Justiça da Bahia e aos demais envolvidos para entender os motivos do descumprimento do acordo e os próximos passos para os ex-proprietários da lanchonete. * Redação Ipiaú TV