Por : Elson Andrade, um arquiteto, urbanista e empresário com pós-graduação no Instituto de Economia da Unicamp.
O que é um Polo Fruticultor Industrial?
Trata-se de uma concentração microrregional característica que reúne, no mínimo, duas fases da cadeia de abastecimento de derivados de frutas — denominado Polo Fruticultor Industrial. Portanto, é uma região geográfica agroindustrial que se destaca no plantio, processamento industrial e distribuição comercial de frutas, polpas, geleias, sucos, entre outros, em um formato dinâmico, estruturado, coletivo e moderno. Um verdadeiro celeiro de conhecimento e boas práticas, aglutinando as muitas partes funcionais complementares e interdependentes.
O importante é haver uma equação sadia e inteligente — socioeconômica e ambiental — que seja ambiental, humana, econômica e financeiramente sustentável!
Geralmente, um polo dessa magnitude é viável em regiões onde se concentra um grande número de produtores rurais, predominantemente cooperados, com alto grau de associativismo, inteligência coletiva e compliance. Juntos, de forma empresarial agressiva, cultivam, industrializam e comercializam um seleto cardápio de frutas em larga escala, com alta produtividade, assistência técnica de primeiro mundo, socialização e rateio dos custos de produção, além do desenvolvimento de métodos, técnicas e treinamentos, com muita dedicação e comprometimento. Tal situação, no entanto, Ipiaú jamais experimentou com tamanha interação, dedicação, inteligência coletiva, grau de interação mútua, persistência, tenacidade e resiliência objetiva.
Os polos fruticultores geralmente têm grande importância para a economia local, regional e até nacional, uma vez que a produção de frutas é uma atividade econômica bastante relevante para o país, não apenas sob o ponto de vista econômico, mas também pelo viés da saúde, dado se tratar de uma excelente alternativa em substituição às “adversárias” indústrias do refrigerante e do chocolate falso, cada vez mais insanos.
Além disso, a produção de frutas em polos fruticultores caracteriza-se também como um importante gerador de empregos e renda para muitas famílias de média escolaridade, devido à intensa demanda por mão de obra agrícola, industrial e logística.
No Brasil, existem diversos tipos de polos fruticultores em operação por todo o país, cada um com suas particularidades, devido à diversidade de clima, solo, pragas, cultura econômico-política dos empresários e tipos de frutas produzidas nas diversas regiões. Um bom exemplo de polo fruticultor é o da região do Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, entre Juazeiro e Petrolina, que são grandes produtores de uvas, mangas e outras frutas tropicais, e ainda, outros polos na região Sul do país, conhecida pela produção de maçãs, uvas e outras frutas de clima temperado.
É certo sair plantando qualquer tipo de fruta (a que você mais gosta ou aquela que já tem na sua propriedade), por exemplo? Não. Não e não!
Aqui reside um grande imbróglio funcional básico da lei econômico-natural da Oferta versus a Demanda. Produzir sem ter mercado externo para onde escoar o excesso de produção é um erro crasso! Do contrário, quanto mais se produz, mais se derruba o preço localmente. É necessário ter o bom “ladrão-extravasor” [ladrão da caixa d’água]. Este foi o desentrave “mágico” descoberto e implantado pelos gaúchos na produção de bananas em Bom Jesus da Lapa-BA. Uma vez implantado esse modus operandi, eles se tornaram um dos maiores players do mundo neste segmento. Milagre, mágica, esperteza ou boa visão-compreensão das condições econômico-financeiras reais dos mercados? Lembrando que quem gera a força para mover o seu liquidificador é, pois, a tensão-atração verificada instantaneamente entre o polo negativo e o positivo, motivacional da dinâmica da corrente elétrica.
Um Polo Fruticultor Industrial competitivo e moderno, propriamente dito, é a equação da soma de forças, interesses e resultados momentâneos, aparentemente contraditórios. Porém, aglutinados, relacionados e direcionados sabiamente, pela experiência, é, por fim, a arte comercial, técnica (agrícola, industrial, logística e comercial), perspicácia, visão e capacidade de resolução de conflitos e problemas intrínsecos de marketing e da boa gestão do negócio corporativo, associativo, de viés propositivista; onde e quando se enfrentam, e se consubstanciam, a junção-“oposição” das forças e expressões de diversos agentes e interesses estrategicamente posicionados naquele mercado, com produtos, serviços e preços de forma complementar, medida, organizada…
Todo esse lembrete, para que não se repita o que aconteceu com a cacauicultura (setor dominado pela indústria moageira de chocolate falso internacional instalada na região, proveniente das mais sagazes jogadas e seus controladores globais por trás). Quem não souber brincar (seja ganhando ou perdendo), que não desça para o Playground, até aprender!
Seria necessário abandonar a secular cacauicultura implantada e começar tudo do zero? Não, absolutamente!
O território de Ipiaú, apesar de ser um dos menores remanescentes, fruto do extremismo ganancioso da repartição desenfreada do território em diversos outros minúsculos municípios, insustentáveis economicamente, tal como ocorreu de forma abusiva, inclusive em nossa microrregião, no afã dos políticos em se lograrem mais e mais transferências financeiras orçamentárias advindas do governo federal via FPM (Fundo de Participação dos Municípios), ainda assim, o território de Ipiaú restou com 28.045 ha (hectares), dos quais apenas 5.310 ha (segundo o IBGE) estão ocupadas com lavouras permanentes (maciçamente de cacau), o que representa apenas 1/5 do total.
Mas por que mudar de modelo econômico e de “base mentalidade agrícola cacaueira”?
Com o exagerado fatiamento político-administrativo-orçamentário do território de Ipiaú, a cidade acabou ficando com uma das menores áreas remanescentes (Itagibá, por exemplo, tem um território cerca de 3 vezes maior que Ipiaú), visivelmente insustentável, do ponto de vista da arrecadação própria, sustentabilidade econômico-administrativa e, consequentemente, financeira, com elevado nível de dependência de transferências orçamentárias advindas do governo federal, via FPM.
Sem emprego e renda, e, portanto, sem apoio na produção local e na economia real, a população também acabou se apoiando demais no INSS, BPC, Bolsa Família, Vale Gás, e tendo que se valer de “bicos” e outros programas sociais governamentais, além de negócios clandestinos… sem falar das eventuais e eleitoreiras doações de obras e serviços estaduais e federais, do tipo presente de grego. Muitas vezes, dá vontade de mandar esses políticos-Halley enfiarem suas obras-bugigangas-fake “chino-paraguaio” naquele lugar.
Qual a oportunidade/fundamento então?
Com a luz amarela acesa sobre a indústria insalubre dos refrigerantes e chocolates-fake, altamente açucarados, recheados de gordura hidrogenada, wafer, ar incorporado, gosto e cheiro artificial de cacau, e com a importação de amêndoas de cacau africano, chegou a hora da virada de página econômica e social da velha e original matriz produtiva exploradora-extrativista da nossa região.
Com o PIB de Ipiaú já chegando ao patamar de R$ 600 milhões por ano, e um alto índice de concentração da riqueza local na classe política exógena, a cacauicultura performando míseros R$ 20 milhões por ano (a serem divididos por cerca de 940 propriedades rurais e menos de 200 carteiras de trabalho oficialmente assinadas nesta lavoura), tudo beira ao estrangulamento e risco sistêmico de colapso da economia rural cacaueira extrativista, até então praticada em plena luz do dia.
Se retirarmos o arrimo econômico-financeiro do INSS, BPC, FMP, FUNDEB, Bolsa Família… Ipiaú, sob o ponto de vista orçamentário e da renda real das famílias, retornaria ao patamar do início do século XX. Tribal. Sim, tribal.
Não… não corra, não, leitor apaixonado, tapeado pela narrativa-homilia contratada ainda reinante na cidade, nesta paróquia e jurisdição. Fique aqui! Temos muitas contas ainda para fazer. Vá beber uma água e volte!
A arrecadação tributária própria da prefeitura de Ipiaú tem sido “gasta apenas” com o custeio do sistema de coleta de lixo e com a Câmara de Vereadores. Só a rubrica “educação” tem alocado para ser consumido R$ 68 milhões/ano (2023), enquanto os gastos com festas populares somam uma dezena de outros tantos milhões. Lembrando Mário de Andrade: “Muita saúva e pouca saúde!” Pão-velho e circo.
A economia de Ipiaú precisa urgentemente voltar a produzir algo não apenas para gerar ocupação mental sadia à sociedade, mas também para equilibrar a deficitária balança comercial local. Não é sustentável economicamente, e, moralmente, o estado de dependência em que estamos vivendo.
Um verdadeiro caso de reboque financeiro-orçamentário disfarçado de cidade. A nossa economia está sendo literalmente arrastada financeiramente pelo governo federal, pela prefeitura e pela sociedade. Embora muitos políticos insistam em pregar a narrativa, dizendo que o governo do estado é o grande protagonista doador de uma enxurrada de obras públicas, essas obras têm características econômicas e financeiras proteladas, com arrastos infindáveis, e muitos empreiteiros quebrando. Tudo corre como se fossem tipicamente as obras da reforma da igreja de Taperoá, nos contos de Ariano Suassuna.
Ou partimos para cima, ou vamos esperar os gaúchos, japoneses ou chineses chegarem na condição de novos donos empreendedores dessa terra, tornando-nos empregados deles, tal como em Bom Jesus da Lapa, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães.
Justificativa dada e constatada… Qual o projeto e propósito, enfim, dessa Fruticultura Industrial?
A ideia é UTILIZAR INICIALMENTE apenas 6.000 ha (21% do nosso território) para o plantio de maracujá, por exemplo, fruta que tem ganhado valor na forma de polpa congelada e é razoavelmente de “fácil aceitação no mercado” nacional. Produz-se rápido, e não ocupa tanto terreno na fazenda. Trata-se de uma cultura com a qual Ipiaú já tem uma certa experiência de manejo, embora sua capacidade técnica e performance ainda estejam muito aquém do necessário para viabilizar em larga escala a operação, comercialização, custos (diretos e indiretos) e logística.
Um passo importante é, sem dúvida, passar a gestão dos recursos orçamentários anuais federais da Ceplac para o domínio, controle, gestão e contraprestação da Embrapa, visto que esses recursos orçamentários da Ceplac têm sido gastos predominantemente de forma administrativa (custos indiretos) em Brasília, e o pouco que chega sequer faz cócegas aqui no sul da Bahia. É melhor deixar para quem queira e ainda tenha tesão, moral, técnico e empreendedorismo, para executá-los de forma ágil, prática e assertiva, e não apenas como uma vitrine-depósito de aposentados de altos salários e pompa de um passado inglório.
Repare na planilha acima e nos meandros dos intrínsecos cálculos, que aqui bem perto, já tem alguém faturando R$ 58 milhões por ano com o plantio e manejo dessa fruta. E você aí ainda buscando informações e novidades nas rádios, sites, blogs, assessores de políticos, vereadores-espantalho e redes sociais de aluguel da cidade. Judas! Provavelmente, estão nos vendendo por 30 moedas de prata ou menos.
Mas… de onde virão os recursos?
Aí está um problema que provavelmente não será difícil de ser equacionado. Pois, a cidade tem poupança depositada nos bancos, em volume, capaz de financiar algo muito mais audacioso. Só o saldo que temos na CEF, se fosse bem aplicado, daria para construir 10 novos prédios do Santa Paula, prontos, entregues e em pleno uso, com desenvolvimento local real, já na manhã seguinte.
Gestão do crédito, no entanto, carece de muita responsabilidade, honestidade, estudo de viabilidade, compliance e transparência com os recursos alheios. Não será fácil superar a ideologia parasitária e o nível de gogolagem costumeiro, além da insistente inércia de alguns. Muitos. Essa parte, vamos deixar para que o próprio leitor sério, racional e isento quantifique.
Para muitas outras cidades, uma das barreiras de entrada mais difíceis neste mercado modelo (fruticultura industrial) é justamente superar a questão do volume de recursos e tecnologia, para viabilizar o parque fabril industrial local, capaz de processar as frutas, refrigerar, armazenar, distribuir e ter penetração nos grandes centros urbanos do país, para nos firmar no mercado com bons preços, frequência, qualidade e, consequentemente, boa margem. E, por incrível que pareça, é justamente o recurso “abundante” disponível que temos em Ipiaú. [Parque Fabril já instalado] E mais que isso, com domínio técnico para sua expansão e escalonamento futuro, a ser reproduzido no novo distrito industrial de Ipiaú (que, se a população não for otária, vai impedir que deputadozinho forasteiro-garganteiro venha distribuir benesses aos seus parceiros e comparsas).
O leitor que não é daqui e não conhece esta realidade, há de ficar estarrecido com tamanha estupidez flagrante, até então praticada, inexplicavelmente a “plena luz do dia”.Fica a velada pergunta: – Como a POLItica cotidiana, pode enfim, se transformar em poliTITICA, e, tomar a visão, rédeas, moral, autoestima e até a dignidade daqueles pseudos jornalistas, radialistas, repórteres, historiadores, vereadores, tiazinha do Zap…que se sobrejulgam em prática de autoengano-enganador oportunista de plantão-comercial.
Dinheirofinanceiro escritural nos bancos,“temos”. Resta saber se há de fato coragem, garra, conhecimento, inteligência coletiva, tecnologia, resiliência, gestão, visão comercial, humana-socioeconômica e ampla capacitação das partes e dos parceiros; além da fundamental Ação inicial com real interesse de mudar. Ou, assim tá bom para os que estão ganhando bem,em cima da desgraça alheia lindeira e/ou subalterna?
Afinal, quanto MENORo município, a população e a rendaPer Capta local,MAIOR a cota parte unitária advinda do distante e “distraído” governo federal, via transferências aos cofres da prefeitura, via FPM; MENORa renda Per Capta da população, e consequentemente,MAIOR a dependência dos políticos e xerifes(as) econômicos os quais compram vergonhoso apoio, complacência e contemplação dos Judas de prateleira empilhados na emaranhada injustiça brasileira.Não há tribunal de Faz de Contas que consiga motivação e/ou técnica capaz de contabilizar e valer o que custam.
Nos quadrose gráficos acima,estáfartamente demonstrada a Estatística Bancária,separada por agência,no municípiode Ipiaú, com a informação financeira-monetária em contraposição à contábil, mostrado o nível dos saldos e valores das principais rubricas contábeis do balanço contábildas 4 agências dos bancos comerciais e/ou múltiplos com carteira comercial, presente na cidade.
Tudo conforme estabelece o Comunicado 20.467-11 do Banco Central do Brasil,cujo títulos contábeis que são aglutinados em cada verbete encontram-se divulgados no COSIF – Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional.
Notas:
O site Ipiaú TV tem diversos outros artigos de foro regional que poderão trazer informações e debates de grande valia para a sua vida e/ou negócio. Não deixe de ler e compartilhar nossas publicações, acessando a coluna Olhar urbano
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Elson Andrade é arquiteto, urbanista, e empresário desenvolvimentista pós-graduado pelo Instituto de Economia da Unicamp.